Lado oculto da Lua
O lado oculto da Lua (também chamado de lado negro da Lua ou lado escuro da Lua) é o hemisfério lunar que não pode ser visto da Terra em decorrência da Lua estar em rotação sincronizada com a Terra.
Toda a superfície da Lua recebe iluminação do Sol durante duas semanas, seguida de duas semanas de noite, sendo que o por muitos denominado lado escuro recebe luz durante a fase da lua nova. A Lua fica totalmente escura apenas em períodos de eclipse total lunar, quando a sombra da Terra impede que os raios solares iluminem o satélite.
Coloca-se, desta maneira, que a Lua na verdade é toda escura, uma vez que não tem luz própria. Toda face iluminada se deve à luz solar. O "lado escuro" é, na verdade, um lado não visível da Lua, o "lado oculto", quando observada da superfície terrestre. Cerca de 18% deste hemisfério é visível da terra em determinados períodos devido ao fenômeno de libração.[1][2][3][4]
Definição
As forças de maré da Terra abrandaram a rotação da Lua até o ponto em que o mesmo lado está sempre voltado para a Terra - um fenômeno chamado rotação sincronizada. A outra face, a maior parte da qual nunca é visível da Terra, é portanto chamada de "o lado oculto da Lua". Com o tempo, algumas partes do lado mais distante podem ser vistas devido à libração.[5] No total, 59% da superfície da Lua é visível da Terra em um momento ou outro. A observação do lado oculto da Lua, ocasionalmente visível da Terra, é difícil por causa do baixo ângulo de visão a partir da Terra.[1][2][3][4]
A frase "lado escuro da Lua" não se refere ao "escuro" como ausência de luz, mas sim "escuro" como algo desconhecido: até que os humanos pudessem enviar espaçonaves ao redor da Lua, essa área nunca havia sido vista.[1][2][3][4] Enquanto muitos interpretam erroneamente isto ao pensar que o "lado escuro" recebe pouca ou nenhuma luz solar, na realidade, tanto os lados próximos quanto distantes recebem (em média) quantidades quase iguais de luz diretamente do Sol. No entanto, o lado visível também recebe a luz do sol refletida da Terra, conhecida como luz cinérea, que não alcança a área do lado distante que não pode ser vista. Somente durante a Lua Cheia (vista da Terra) é que o lado mais distante da Lua fica escuro. A palavra "escuro" expandiu-se para se referir também ao fato de que a comunicação com espaçonaves pode ser bloqueada enquanto ela estiver do outro lado da Lua, durante missões espaciais do Programa Apollo, por exemplo.[6]
Exploração
Este hemisfério lunar foi fotografado pela primeira vez pela sonda espacial soviética Luna 3, em 1959,[7] e primeiramente observado por olhos humanos durante a missão Apollo 8, na órbita da Lua, em 1968.[8] O hemisfério possui diversas crateras, resultado de vários impactos na sua superfície, inclusive uma das maiores do sistema solar, a Bacia do Polo Sul-Aitken. Astronautas nunca pousaram no lado oculto da Lua, embora uma das missões Apollo canceladas chegou a ser planejada para realizar um pouso nesta região. A possibilidade de realização de um pouso tripulado nesta região nunca agradou os responsáveis pelo programa espacial americano, visto que a tripulação ficaria incomunicável com a Terra, enquanto estivesse no solo lunar.[9]
Chang'e 4
A primeira sonda a pousar no lado oculto da lua foi a Chang'e 4 em 3 de janeiro de 2019. A nave transportou um veículo o Rover Jade Rabbit 2 com seis rodas, todas com potência para que possa continuar a operar mesmo que uma delas falhe. Pode subir uma colina de 20 graus ou obstáculos de até 20 centímetros de altura. A velocidade máxima é de 200 metros por hora.[10] Para enviar informações à Terra, o veículo no solo as transmite ao veículo orbitante e este as retransmite ao centro espacial.
Usos e missões potenciais
Como o lado oculto da Lua é protegido de transmissões de rádio da Terra, é considerado um bom local para colocar radiotelescópios para uso dos astrônomos. Pequenas crateras em forma de tigela fornecem uma formação natural para um telescópio estacionário semelhante a Arecibo, em Porto Rico. Para telescópios de escala muito maior, a cratera Daedalus de 100 quilômetros de diâmetro (60 milhas) está situada perto do centro do lado distante, e a borda de 3 quilômetros de altura (2 milhas) ajudaria a bloquear as comunicações perdidas de satélites em órbita. Outro potencial candidato a um radiotelescópio é a cratera Saha.[11]
Antes de implantar radiotelescópios para o outro lado, vários problemas devem ser superados. A poeira lunar fina pode contaminar equipamentos, veículos e trajes espaciais. Os materiais condutores usados para as placas de rádio também devem ser cuidadosamente protegidos contra os efeitos das explosões solares. Finalmente, a área ao redor dos telescópios deve ser protegida contra a contaminação por outras fontes de rádio.[12]
O ponto L2 Lagrange do sistema Terra-Lua está localizado a cerca de 62 800 km (39 000 milhas) acima do lado distante, que também foi proposto como um local para um futuro radiotelescópio que realizaria uma órbita Lissajous sobre o ponto Lagrangiano.[12]
Uma das missões da NASA à Lua em estudo enviaria um módulo de pouso de retorno de amostras para a bacia do Polo Sul-Aitken, local de um grande evento de impacto que criou uma formação de quase 2 400 km (1 500 milhas) de diâmetro. A força desse impacto criou uma penetração profunda na superfície lunar, e uma amostra retornada deste local poderia ser analisada para obter informações sobre o interior da Lua.[12]
Como o lado próximo é parcialmente protegido do vento solar pela Terra, espera-se que o lado distante tenha a maior concentração de hélio-3 na superfície da Lua. Este isótopo é relativamente raro na Terra, mas tem bom potencial para uso como combustível em reatores de fusão. Os defensores do assentamento lunar citaram a presença desse material como uma razão para o desenvolvimento de uma base lunar.[13][14]
Referências na cultura
- No filme 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, baseado no livro de mesmo nome de Arthur C. Clarke, um monólito é encontrado enterrado no lado oculto da Lua. A peça tem sua data calculada desde muito antes da humanidade existir e é um mistério para os astronautas.[15]
- No romance Autour de la Lune, de Júlio Verne, os protagonistas estudam o lado oculto da lua e o autor tece hipóteses acerca de sua orografia.[16]
Ver também
- Geologia da Lua
- Hipótese do grande impacto
- Lado visível da Lua
- Mares lunares
Referências
- ↑ a b c Sigurdsson, Steinn (9 de junho de 2014). «The Dark Side of the Moon: a Short History». Consultado em 16 de setembro de 2017
- ↑ a b c O'Conner, Patricia T.; Kellerman, Stewart (6 de setembro de 2011). «The Dark Side of the Moon». Consultado em 16 de setembro de 2017
- ↑ a b c Messer, A'ndrea Elyse (9 de junho de 2014). «55-year-old dark side of the moon mystery solved». Penn State News. Consultado em 16 de setembro de 2017
- ↑ a b c Falin, Lee (5 de janeiro de 2015). «What's on the Dark Side of the Moon?». Consultado em 16 de setembro de 2017
- ↑ NASA. «Libration of the Moon» [ligação inativa] [ligação inativa]
- ↑ «Dark No More: Exploring the Far Side of the Moon». 29 de abril de 2013
- ↑ «NASA - NSSDCA - Spacecraft - Details». nssdc.gsfc.nasa.gov
- ↑ «Sonda Russa Luna 3 fotografa pela primeira vez o lado escuro da lua». Consultado em 16 de setembro de 2013. Arquivado do original em 24 de dezembro de 2013
- ↑ CHERTOK, Boris. Rockets and People: creating a rocket industry, Volume II. Houston, TX: NASA, 2006.
- ↑ «Rover chinês já circula no lado oculto da Lua»
- ↑ Stenger, Richard (9 de janeiro de 2002). «Astronomers push for observatory on the moon». CNN. Consultado em 26 de janeiro de 2007. Cópia arquivada em 25 de março de 2007
- ↑ a b c M. B. Duke; B. C. Clark; T. Gamber; P. G. Lucey; G. Ryder; G. J. Taylor (1999). «Sample Return Mission to the South Pole Aitken Basin» (PDF). Workshop on New Views of the Moon 2: Understanding the Moon Through the Integration of Diverse Datasets: 11
- ↑ «Thar's Gold in Tham Lunar Hills». Daily Record. 28 de janeiro de 2006. Consultado em 26 de janeiro de 2007
- ↑ Schmitt, Harrison (7 de dezembro de 2004). «Mining the Moon». Popular Mechanics. Consultado em 7 de outubro de 2013. Cópia arquivada em 15 de outubro de 2013
- ↑ «2001: Uma Odisseia no Espaço (1968)». Cineplayers. 25 de novembro de 2018. Consultado em 4 de maio de 2024
- ↑ Viagem ao redor da Lua, Júlio Verne. Companhia distribuidora de livros de São Paulo, 1970.
Ligações externas
- Lunar and Planetary Institute: Exploring the Moon
- Lunar and Planetary Institute: Lunar Atlases
- Ralph Aeschliman Planetary Cartography and Graphics: Lunar Maps
- Portal da astronomia
- Portal da Lua