A Paixão segundo G.H.

A Paixão Segundo G.H.
A Paixão segundo G.H.
Capa da edição original
Autor(es) Clarice Lispector
Idioma Português
País Brasil
Editora Rocco
Lançamento 1964
Páginas 180
Cronologia
A Legião Estrangeira
Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres

A Paixão Segundo G.H. é um romance da escritora brasileira Clarice Lispector. O livro foi publicado em 1964.

Enredo

O enredo trata de uma mulher identificada apenas pelas iniciais G.H., que depois de demitir a empregada e tentar limpar seu quarto, relata a perda da individualidade após ter esmagado uma barata na porta de um guarda-roupas.

No dia seguinte ela narra a própria impotência de escrever o episódio. A história se organiza em capítulos de sequência sistemática - cada um começa com a mesma frase que serve de fechamento ao anterior. A interrupção, assim, é elemento de continuidade, numa representação simbólica do que é a experiência de G.H.

Análise

Assim como em outras obras de Clarice, em A Paixão Segundo G.H. os fluxos de consciência permeiam o livro. Espécie de romance-enigma, fornece o lugar de sujeito à linguagem, que constrói ao redor de si um labirinto cuja saída está na essência do ser: trata-se de um longo monólogo em primeira pessoa, que se dá pelo "jorro turbilhante e ininterrupto de linguagem". Um paradoxo, como muitos dos que permeiam a obra da escritora: as palavras são, ao mesmo tempo, o que afasta o ser de sua essência, mas, ao mesmo tempo, constitui a chave para atingi-la. É o exercício da linguagem como instrumento possível de se tocar o intocável, de se atingir o segredo: desenterrar o melhor e o pior de nossa condição humana, que já não é nem mais humana. Assim, a literatura de Clarice assume uma estatura filosófica, aproximando-se, na visão de alguns, do existencialismo de Jean-Paul Sartre.

Diz a epígrafe da obra de Bernard Berenson: "Uma vida plena pode ser aquela que alcance uma identificação tão completa com o não-eu que não haja mais um eu para morrer".

Sem nome, G.H. identifica-se com todos os seres. Entre suas vidas possíveis está a mística, aberta a múltiplos temas, como a linguagem e a arte que se fundem na busca espiritual de seu ser. No romance, a linguagem é utilizada por Clarice com o objetivo de transmitir sua interpretação do mundo. Ela relata a descoberta do cotidiano e, ao mesmo tempo, questiona o que é o ser.[1]

O momento de maior revelação se dá na cena mais famosa de romance. A barata, após perder sua casca, expele a secreção branca que aparece como sua última essência. G.H., então, a come. Estaria aí a renúncia que a personagem faz a seu próprio ser como linguagem, que, logo após o ato, entrega-se ao silêncio.

Clarice Lispector faz o uso de metáforas durante todo o livro, conferindo arbitrariedade ao texto. Dessa forma, a obra pode ser interpretada de várias formas diferentes e depende do leitor para definição do seu significado. Segundo Olga de Sá, que estuda a obra clariceana, a escritura da autora "deve ser entendida com o corpo, pois com ele escreve".[1]

Referências

  1. a b De Sá, Olga. A escritura de Clarice Lispector. Editora Vozes, 1979.
  • v
  • d
  • e
Livros
Romances
Perto do Coração Selvagem (1943) • O Lustre (1946) • A Cidade Sitiada (1949) • A Maçã no Escuro (1961) • A Paixão segundo G.H. (1964) • Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres (1969) • Água Viva (1973) • A Hora da Estrela (1977) • Um Sopro de Vida (1978)
Contos
Alguns Contos (1952) • Laços de Família (1960) • A Legião Estrangeira (1964) • Felicidade Clandestina (1971) • A Imitação da Rosa (1973) • A Via-crucis do Corpo (1974) • Onde Estivestes de Noite (1974) • Para não Esquecer (1978) • A Bela e a Fera (1979)
Literatura infantil
O Mistério do Coelho Pensante (1967) • A Mulher que Matou os Peixes (1968) • A Vida Íntima de Laura (1974) • Quase de Verdade (1978) • Como Nasceram as Estrelas: Doze Lendas Brasileiras (1987)
Jornalismo
e outros escritos
A Descoberta do Mundo (1984) • Visão do Esplendor (1975) • De Corpo Inteiro (1975) • Aprendendo a Viver (2004) • Outros Escritos (2005) • Correio Feminino (2006) • Entrevistas (2007)
Correspondências
Cartas Perto do Coração (2001) • Correspondências (2002) • Minhas Queridas (2007)
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